Mulheres no comando: conheça o Studio Gang

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No ano passado tive a oportunidade de visitar o Studio Gang, certamente um dos escritórios mais conceituados e inspiradores da atualidade, liderado pela arquiteta Jeanne Gang. Ali pude conversar um pouco com sua equipe sobre o espaço de trabalho, alguns de seus projetos, sobre o futuro da arquitetura, o papel das mulheres nesta profissão e até mesmo sobre as inspirações para o projeto da Embaixada dos Estados Unidos em Brasília.

A sede do Studio Gang em Chicago, está instalada num edifício que foi construído em 1937 - um antigo centro comunitário para imigrantes poloneses, que entre outras funções concentrava um banco para eles configurando uma importante âncora para a comunidade polonesa nos Estados Unidos – e que corria o risco de ser demolido.

Studio Gang HQ - Chicago. Image © Victor Delaqua
Studio Gang HQ - Chicago. Image © Victor Delaqua

Por este motivo o escritório comprou o edifício para que ali fosse sua nova sede em Chicago. Hoje todo o espaço foi tombado e requalificado para abrigar as funções de um grande escritório de arquitetura: uma grande maquetaria e espaço para expor suas maquetes, estações de trabalho, mesas de reunião e um ambiente livre em sua cobertura que recebe aulas de ioga para a equipe do Studio, palestras e outros diferentes tipos de evento que são abertos ao público.

Studio Gang HQ - Chicago. Image © Victor Delaqua

Abrir o edifício para atividades comunitárias faz com que mais pessoas possam acessar o edifício histórico e aprendam a respeitar a memória de sua cidade através do convívio com este espaço. A maior parte das atividades ocorrem a céu aberto, na cobertura, que recebeu um tratamento paisagístico com vegetação local a fim de atrair a fauna da região. Gesto semelhante a qual o escritório adotou em um de seus projetos mais celebrados, o Chicago Zoo Park.

Chicago Zoo Park. Image © Victor Delaqua

Junto da proposta para o zoológico, Studio Gang é responsável por diversos prédios icônicos em Chicago. A maioria de seus projetos coloca em debate o que está proposto no próprio cotidiano do escritório: a convivência entre as pessoas e o diálogo com a cidade. Fica claro que o exercício de projeto ali não busca criar parques, arranha-céus ou ícones para uma cidade, mas sim espaços que as pessoas possam viver e experimentar.

Alguns exemplos seriam o Estaleiro WMS no Clark Park e o Aqua Tower, que é o primeiro arranha-céu projetado por uma mulher a ser construído – concluído em 2010.

WMS Boathouse in Clark Park. Image © Victor Delaqua

Estaleiro WMS no Clark Park / Studio Gang Architects

O sucesso claramente vem das pesquisas que o escritório faz para conceitualizar seus desenhos junto da interdisciplinaridade a qual se propõe através da conversas com outros especialistas como sociólogos e antropólogos. Cada projeto ganha uma bibliografia própria e diferentes consultores, no caso do National Aquarium, a equipe recebe a colaboração de psicólogos de animais para compreender como se projeta um aquário contemporâneo ao nosso tempo e busca novos caminhos para mudar a forma que imaginamos estes edifícios e como os animais devem viver ali.

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Com o decorrer de sua trajetória, o escritório ganhou projeção internacional e agora está presente em diversos países através de sua arquitetura, ao abordar os contextos locais na hora de projetar, ressaltam a importância do processo de pesquisa inicial para compreender e colaborar com as comunidades onde vão intervir e lembram que o escritório não tenta impor um estilo arquitetônico, pelo contrário, absorvem diferentes referências para inserir a arquitetura em seu contexto.

Este pode ter sido o segredo para o escritório vencer outros grandes nomes no concurso para a Embaixada dos Estados Unidos em Brasília. Ainda não podem falar sobre o projeto em si, mas o fato de Jeanne Gang já ter vindo ao Brasil algumas vezes faz com que ela seja, de certa forma, familiar ao país.

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Lina Bo Bardi, que elas retratam como uma “gênia”, é uma grande inspiração para elas. Entre as qualidades que nós brasileiros já estamos mais acostumados a ver na obra de Lina, elas citam a forma como ela explora os materiais, o processo e modo que ela os expressa junto ao lugar. Além disso, chama a atenção as aberturas que Lina cria em seus projetos, que tornam os espaços incríveis e serviram como uma referência para a proposta. Outra pequena dica sobre o futuro projeto, vem do respeito e admiração pelo trabalho de Burle Marx, que assinou o paisagismo da Embaixada dos Estados Unidos - que será conservado durante o novo projeto.

Entre outros comentários, elas citam a monumental escala de Brasília, que surpreendeu por suas distâncias e o diferente modo que a relação do pedestre com a cidade está proposta. Algo muito difícil de ser apreendido apenas pelas fotografias que viam antes de estarem na capital brasileira. Este certamente não é um ponto positivo da cidade, afinal, quando questionadas sobre como elas imaginam o futuro da arquitetura, citam que o mais importante serão as pessoas, as relações reais e não virtuais, e que a arquitetura promoverá esta mudança.

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Num mundo que se torna cada vez mais flexível e efêmero, os espaços físicos ganham ainda mais importância. Os edifícios não deverão ser projetados para causar impacto, mas sim para aprimorar as cidades – e, neste processo, os bancos de dados poderão ajudar os arquitetos a conceber seus projetos.

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Por fim, perguntei como elas se sentem sendo mulheres no campo da arquitetura. Claire Cahan, diretora de projetos do Studio, concorda que ainda não existe igualdade no mercado arquitetônico, nem mesmo para a Jeanne Gang. Elas acreditam que a maior resposta para o machismo está presente na qualidade de seus trabalhos – que são cada vez mais reconhecidos - e, também, em conferências e universidades, quando ensinam a todos que as mulheres podem ter muito sucesso e merecem respeito na Arquitetura.

Agradecimentos especiais à Elizabeth Krasner e Claire Cahan que me receberam repentinamente no Studio Gang e compartilharam um pouco de sua sabedoria comigo.

Sobre este autor
Cita: Victor Delaqua. "Mulheres no comando: conheça o Studio Gang" 08 Mar 2017. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/806843/mulheres-no-comando-conheca-o-studio-gang> ISSN 0719-8906

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